ENTREVISTA COM EMANUELLE BALDINI NA SALA SÃO PAULO

Nessa entrevista tivemos a honra de poder conversar com o Spalla da maior orquestra da América Latina, Osesp! Conseguimos conversar um pouco sobre música, orquestra e principalmente educação musical. Essa entrevistaestá gravada e dísponivel em nosso canal do Youtube!

Thiago Rosa: Eu queria que você se apresentasse. Quem é Emanuelle Baldini?

Baldini: Então, eu sou violinista, regente, italiano, mas desde 2005 estou aqui no Brasil. Sou residente aqui no Brasil, aliás eu vim em 2005 a convite da OSESP para assumir o papel de spalla da OSESP. Na verdade, eu vim algumas vezes em 2003, outras vezes em 2004 e a partir de março de 2005 assumi como titular na OSESP. E além disso dou aulas, toco música de câmara, idealizo conteúdos didáticos também. Isso é uma coisa que...

Thiago Rosa: Blogueiro no caso.

Baldini: Não sei, eu não sou famoso. Não tenho ambição de ter milhões de seguidores, mas tenho sim um senso, um pouco de missão. Acho que é meu dever, tendo o luxo de trabalhar na melhor orquestra da América Latina, sinto o dever de devolver um pouquinho a esse país, aos jovens desse país, um pouco daquilo que esse país deu para mim. Então, eu faço questão de produzir esse conteúdo para ajudar as pessoas, os jovens. E faço questão de que esse conteúdo seja gratuito.

Thiago Rosa: Legal!

Hesley: Emanuelle, só nesse gancho que você está se apresentando, que antes você falou alguma coisa sobre o seu irmão na Itália.

Baldini: Sim.

Hesley: Depois é um assunto que a gente vai entrar, mas eu queria entender, você vem de uma família de violonistas?

Baldini: Sim. Violinistas não, de músicos. Meus pais são ambos pianistas, meu pai era, agora aposentou, mas era professor de piano principal no conservatório da minha cidade. Minha mãe é professora de teoria e solfejo e tenho dois irmãos, eu sou o "maior". Tenho dois irmãos, um arquiteto e outro formado em piano, também pianista, mas nunca quis seguir. Ele falou "eu não vou fazer a vida que você faz, horas e horas estudando violino, não vou conseguir isso." Ele foi mais para um lado, apesar que toca super bem piano. Mas ele foi para um lado mais musicológico, escreve livros, faz palestras, digamos que é mais musicólogo.

Hesley: Na Itália?

Baldini: Na Itália.

Thiago Rosa: E por que o violino? Escolha sua ou não?

Baldini: Escolha minha, aliás, quando escolhi o violino, eu estava tocando piano. É curioso isso, mas...

Thiago Rosa: Achou muito fácil! Estava entediado.

 

Baldini: Eu voltava para casa da escolinha e sentava no piano do meu pai e improvisava harmonias absurdas, não sabia ler música, tinha seis anos de idade. Então sentava e improvisava, inventava coisas. E um dia assisti um concerto na televisão, um concerto de Tchaikovski para violino, com Uto Ughi, um violinista que ainda está em atividade na Itália e fiquei encantado e pedi um violino. No natal sucessivo eu recebi um violino, um oitavo, acho que comecei já com um oitavo. E comecei.

Thiago Rosa: E não parou mais.

Baldini: Não parei mais.

Thiago Rosa: E aí, bom, passou praticamente, passou boa parte da vida esse início na Itália. E aí em 2005, antes de 2005 que você falou? 2003, 2004 já começou esse flerte aqui com a orquestra. Em que ponto exatamente isso aconteceu? O que que exatamente te trouxe para cá? Porque a grande dúvida, só para contextualizar, a grande dúvida das pessoas é "o que levaria um violinista sair da Europa para vir para o Brasil, sendo que a maioria do pessoal daqui está querendo ir para lá?"

Baldini: Então eu vou adicionar mais coisas que podem deixar muitas dúvidas sobre o porquê que eu tomei essa decisão, porque além de tudo isso que você falou, que as pessoas querem ir para lá... Eu tinha trabalho vitalício, era spalla da orquestra da minha cidade e vitalício, e tinha frequentes convites para fazer spalla na escala de Milão quando eu estava de folga na minha ex orquestra lá na Itália. Eu ia para Milão, Ricardo Multi era o regente e ia como convidado lá em Milão. E, bom, mais duas questões, comprei um apartamento na minha cidade, esse apartamento era a 7 minutos a pé do teatro e a 15 minutos a pé da casa dos meus pais.

Thiago Rosa: Então é tipo aqui em São Paulo, é tudo super perto, tranquilo. (risos)

Baldini: Então foi no momento, a decisão foi no momento menos esperado possível, porque eu já tinha tomado algumas atitudes de quem que, geralmente são tomadas por quem já decidiu fixar sua existência no lugar.

Thiago Rosa: Já estava criando raiz ali.

Baldini : É, comprei apartamento, era a cidade, é a cidade dos meus pais dos meus irmãos... Só que quando chegou o primeiro convite de John Neschling, me convidou por duas semanas em 2003, eu aceitei sem a menor intenção de que esse poderia ser, para vir aqui, morar aqui, trabalhar aqui. Eu vim fazer uma experiência assim como ia na escala de Milão, como convidado, eu falei "ah, vou duas semanas em São Paulo, conhecer uma nova orquestra". O problema é, um problema bom, mas na hora foi meio, dei uma balançada na minha cabeça, no meu coração. O problema é que quando eu cheguei aqui entrei nessa sala, escutei o som da orquestra, comecei a conviver nesse pouco tempo, mas comecei a conviver com jovens de 16 nacionalidades diferentes, o que era uma riqueza incrível. Na minha ex orquestra, tinha só italianos. Talvez um, dois da Croácia, lá perto das regiões perto da Itália e só. Chegar em uma orquestra assim, internacional com o melhor do que o Brasil produziu na música e alguns dos melhores talentos de outros países, cada um com suas experiências, com suas tradições, com escolas diferentes, foi uma...

 

Acendeu uma chama em mim. E aí voltei, comecei a ficar com saudade, me chamaram uma segunda vez, obviamente vim, ainda sem pensar e nada fixo aqui. Só que depois, eles gostaram do meu trabalho e começaram a me convidar mais vezes, mais vezes, até que novembro de 2004 teve uma longa turnê de um mês pelo Brasil. Manaus, Belém, descemos toda a costa, todas as capitais do norte, nordeste.

Thiago Rosa: Ai teve um problema, né? Conheceu as praias...

Baldini: Aí conheci esse país maravilhoso. Aí é como se o elo que faltasse tivesse fechado, porque a orquestra, eu já tinha me apaixonado pela orquestra, já tinha uma verdadeira paixão por essa sala também. A estrutura, toda a instituição é algo realmente um luxo. E o elo que faltava era isso, era o amor pelo país. E pronto.

Thiago Rosa: Aí é fácil se apaixonar pelo Brasil né.

Baldini: Para mim é muito fácil.

Hesley: E a OSESP, ela é realmente representativa na América Latina, talvez mundialmente. Então é realmente importante e foi um trabalho que você veio desde 2005 e ficou.

Baldini: Fiquei e nunca me arrependi, nunca. Mesmo nos momentos... Em 19 anos passam momentos altos e baixos, com algumas crises, com algumas trocas importantes e mesmo nos momentos de maior crise, de maior dificuldade, nunca me arrependi da decisão.

Hesley:  Bacana, e visita a Itália?

Baldini: Tento ir duas vezes por ano. Depois da pandemia, uma vez por ano. Porque cada vez, bom, isso não é ruim, mas estou mais ocupado, mais coisas para fazer. Mas uma vez por ano, com certeza vou. Porque inclusive, eu tenho ainda a minha família lá, então...

Hesley: A gente te acompanha no Instagram e vê que é corrido. Cada hora fazendo uma coisa. - risos

Thiago Rosa: Tem que aprender a falar não para algumas coisas. Você falou desse período que vocês viajaram, dessa turnê... E falou também dessa questão que você entende como uma missão de ajudar os violinistas no Brasil, educação musical no Brasil. O que você sente desse período que você esteve aqui, desde quando você mudou para cá, da educação musical no Brasil? O que que você acha que são os maiores desafios, na área musical principalmente. Eu sei que envolve a educação como um todo né, que a gente tá engatinhando muito nisso, mas é o que que falta para o Brasil produzir grandes violinistas e ser assim, representativo nessa área?

Baldini: São várias coisas, provavelmente é como... As perguntas e as respostas não foram combinadas tá? Só para explicar... Então, talvez eu faça uma lista de situações e de motivações que não é exatamente completa, e não é também exatamente por ordem de importância, mas certamente um pouquinho de cada uma dessas coisas que eu falo... É certamente motivo para isso. Primeiro, é ainda um país extremamente desigual, ainda é um país com uma diferença absurda de possibilidades, de dinheiro, de estrutura. Se pensarmos que Fortaleza faça... É um exemplo, não quero que se sintam mal, mas é para o bem que estou falando isso, para o bem inclusive de Fortaleza. Se pensarmos que Fortaleza, que foi uma das cidades da Copa, uma das cidades que teve o estádio blá, blá, blá... Não tem uma orquestra sinfônica profissional. Fortaleza? Uma cidade que acho que tem mais de dois milhões de pessoas morando em Fortaleza. Aí percebemos como esse Brasil é ainda desigual, ainda falta investimento em arte e cultura.     A única orquestra profissional que tinha em Fortaleza, era a orquestra Eleazar de Carvalho. Era uma orquestra de câmara de cordas, a maioria dos membros dessa orquestra tiveram que sair de lá porque pararam de pagar, não recebiam salário e tiveram que ir embora de Fortaleza. Então se uma cidade como Fortaleza, grande capital de um estado importante, não tem uma orquestra sinfônica, para qual os jovens possam olhar como um objetivo...

Thiago Rosa: Vai estudar pra quê, né?

Baldini: Vai estudar pra quê?

Thiago Rosa: Tocar em eventos...

Baldini: Exatamente, essa é uma coisa. Segunda coisa, as distâncias geográficas, tem muitas regiões no Brasil que estão longe, mas longe mesmo da cidade mais próxima onde tem um professor. E aí que entra a internet e os benefícios que a internet pode dar a esse país, porque em teoria, numa Itália não precisaria da internet, em teoria. Sempre é benéfica mas, em teoria...

Thiago Rosa: Está tudo muito mais próximo ali.

Baldini: Você chega de trem, se você mora no vilarejinho na montanha, em meia hora você chega numa cidade onde certamente tem um professor e tem uma certa atividade inclusiva de concertos, de apresentações. Então eu acho que essa questão da distância geográfica é importante. E depois, mais um elemento que pode ser uma ocasião para pensarmos sobre as causas possíveis, é a falta de uma coordenação. Depende ainda, o ensino da música, depende ainda muito do indivíduo, do professor ou do fundador de um projeto, que funda esse projeto e tudo que funciona dentro desse projeto é lindo, está sendo feito direito mas é ainda algo muito isolado. Não temos uma rede, não está conectado isso como país, não existe uma educação musical uniforme no país porque nunca teve um projeto, pelo menos que eu saiba, nunca teve um projeto real de juntar todas essas grandes ideias, essas grandes plantinhas que são plantadas aqui.

Hesley: Que são projetos todos individuais...

Baldini: Todos individuais e que não dialogam entre si, não porque não querem dialogar...

Hesley: É como você falou, tem que ter um indivíduo que cuida de cada um, com a vontade dele e ainda às vezes patrocinados porém, privados.

Thiago Rosa: Acontece muito, aconteceu lá na minha cidade, eu moro em Uberlândia. E aí acontece de você ter um projeto que começa a funcionar muito bem, e aí o idealizador desse projeto por algum motivo, falta ou sei lá, morre ou muda de cidade ou alguma coisa e aí acaba.

Baldini: Acaba.

Thiago Rosa: Fica todo mundo órfão.

Baldini: É incrível que quem me conta da situação do Brasil dos anos 70, 80 me conta exatamente as mesmas coisas que continuam acontecendo agora. Essa coisa do projeto que é criado ou porque um político é apaixonado de música ou porque tem um regente que tem amizades influentes, então muda alguma coisa, alguém morre e acaba.

Thiago Rosa: Acaba tudo, não tem continuidade né. É realmente, esses são pontos importantes. E foi isso que te motivou a começar com seus vídeos didáticos?

Baldini: Sim.

Thiago Rosa: Você já tinha o seu canal, já existe há muito tempo, mas não sei se tinha tanto movimento quanto tem agora.

Baldini: Não tinha. O meu canal, eu lembro que lá atrás, nem sei quando abriu o canal, deveria verificar, não sei. Mas foi basicamente para um espaço onde juntar os vídeos de boa qualidade ou vídeos de concertos que eu considerava bons e ter tudo no mesmo lugar. Tenho sempre medo de perder alguma coisa, de perder uma lembrança, de perder um vídeo.

Thiago Rosa: Era um backup.

Baldini: Era uma espécie de backup só que público. Disponibilizando para os outros também essas coisas. Mas os vídeos didáticos começaram justamente porque nas minhas viagens que começaram logo que cheguei no Brasil, eu sempre fui meio inquieto, não consigo ficar parado. Se eu tenho alguns dias livres na OSESP, eu tenho que fazer alguma coisa, eu tenho que fazer alguma coisa relacionada a música, conhecer um projeto, ir tocar em um lugar que não conheço... Eu sempre fui assim. Nas minhas viagens eu conheci tantos jovens sedentos, com uma fome de música, de aprender e eu me sentia mal também, eu me sentia mal ter que voltar sem poder ajudar. É uma forma, claro tem suas limitações, não é como aulas presenciais, mas é uma forma de ajudar sem pedir nada em troca . Então quando posso, eu faço um vídeo, estou aqui nessa sala muitas vezes ou viajando, eu ligo a câmera, penso um argumento e ligo a câmera e começo. Não são pensados, não são estruturados, muito espontâneo, muito barato muito simplório às vezes, talvez. Mas uma forma de me comunicar com jovens e passar algumas informações que talvez podem ajudar alguém.

Thiago Rosa: Você acha que seria interessante que outras pessoas, de bom nível, grandes músicos, também fizessem a mesma coisa? Porque na minha maneira de ver, eu acho que isso eleva um pouco o nível do conteúdo que está disponível na internet e acaba que dá a possibilidade das pessoas filtrarem "os picaretas". É, eu sabia que você ia gostar dessa palavra.

Baldini: Esse é um argumento muito sério, argumento muito sério. Se todos aqueles que são realmente competentes nessa nossa área, tivessem a paciência, a vontade de criar conteúdo, realmente seria muito mais fácil entender a diferença entre um professor de verdade e um picareta, como você falou.

Thiago Rosa: Fui eu que falei, tá gente? Ele não falaria.

Baldini: Eu repeti. São muitos, são muitos...

Thiago Rosa: São a maioria, inclusive.

Baldini: São a maioria, pedem muito dinheiro, geralmente pede dinheiro a quem não tem muito dinheiro. Então dá ainda mais dor ver essas coisas. E às vezes quando tentamos mostrar isso, às vezes quando tentamos denunciar de alguma forma isso, ainda somos taxados de esnobes, "porque não entendemos que tem diferentes níveis." Não, não tem diferentes níveis. Tem as pessoas sérias e as pessoas picaretas.

Thiago Rosa: Eu vejo, eu lembro que foi um comentário que eu fiz com os meus amigos quando você começou com os vídeos didáticos, acho que você fez uma série do Kreutzer.

Baldini: Aham. Uma das primeiras coisas que eu fiz.

Thiago Rosa: Eu lembro que faz bastante tempo. E de vez em quando eu revisito isso porque eu vou dando aula e às vezes recorro algum exercício no Kreutzer e eu já falo assim ó:"Tem um vídeo muito bom sobre isso" e eu passo o seu link e economiza um baita tempo de aula. Então depois eu te pago o aluguel do vídeo lá. [Risadas] - E aí eu lembro que foi o comentário entre os amigos, que mais pessoas deviam fazer, acho que quanto mais canais sérios a gente tivesse disponível, mais fácil seria essa comparação, porque tem muita gente que precisa de conteúdo e às vezes não sabe filtrar. Na verdade, o iniciante não sabe, ele acaba caindo de qualquer conversa. Então acho que o crescimento da divulgação de conteúdo dos canais de internet deveria naturalmente trazer um pouco mais de qualidade. E um desses amigos falou assim "É, mas aquela pessoa que esta lá numa cidadezinha que não tem acesso, ela acaba optando por fazer aula com qualquer pessoa né." Mas a internet também chega lá né.

Baldini: Sim, exatamente por isso que acredito muito no... É um esporte agora acabar com a internet, com as redes sociais, com o YouTube. É um esporte, é moda destruir, só falar das coisas negativas. Mas eu acredito muito muito no poder dessas ferramentas, sobretudo num país enorme, com distâncias tão gigantes e com regiões tão inacessíveis para professores e instituições. Ainda estamos longe, infelizmente, de ter escolas sérias de música no interior do Amazonas, para falar uma das regiões afetadas nesse sentido. Então a internet pode ser muito muito útil.

Thiago Rosa: E você, eu lembro que teve uma época que você deu aulas online, não sei se foi só por ocasião da pandemia também ou se você continua fazendo alguma coisa parecidas depois? Aulas pelo Zoom...

Baldini: É claro que na pandemia fiquei mais tempo livre em casa, então eu disponibilizei algumas horas para aula e depois que as coisas começaram a voltar, é óbvio que o tempo diminuiu para fazer trabalhos online regulares. Mas por outro lado, diminuíram as aulas online. Por outro lado, em cada lugar onde eu vou, eu tento dar masterclasses, conhecer os jovens da cidade que visito. Essa é uma coisa que eu faço desde que cheguei no Brasil. Quase não existe lugar onde eu seja convidado para tocar, para solar, para reger, em que eu não faça também um masterclass. Mas sempre é gratuito.

Thiago Rosa: Sempre deixar uma marca.

Baldini: Às vezes são pequenos encontros que talvez não passem grandes ensinamentos, mas se acendem uma "chaminha" dentro daquele jovem, já valeu.

Thiago Rosa: Planta a semente. E uma dúvida agora minha. Vou fechar a janela aqui para a galera não ouvir. Como professor agora, porque eu dou aula online também inclusive arrasta para cima aqui para você ter aula comigo. Brincadeira. Como professor, o que que você sentiu dessas aulas online? Você acha que você conseguiria desenvolver um trabalho decente? Porque a gente sabe que tem as limitações. Eu acho que é maior dificuldade de quem se dispõe a dar aula online, às vezes é que você tem um bom equipamento, consegue fazer, mas a galera às vezes não tem internet e fica travando, você tem dificuldade de ouvir se o som da pessoa realmente não tá legal ou se a conexão que tá horrível. Então assim, tem essas limitações. O que que você como professor sentia desse momento tecnológico?

Baldini: Olha, eu acho que os benefícios são maiores que os problemas, as limitações.

Thiago Rosa: Isso me surpreendeu muito na verdade. Eu achei que teria sido uma grande decepção para você.

Baldini: Não, os benefícios são muito maiores. As coisas que você pode trabalhar, as coisas que o aluno pode desenvolver mesmo fazendo aula online, são muito maiores das coisas que não dá para trabalhar muito. Por exemplo o som, a qualidade do som, você dificilmente se cria na sua cabeça como professor, a ideia, que tipo de som o aluno tem ao vivo. Porque depende muito do equipamento que ele tem, qual microfone usa...

Thiago Rosa: Se a internet estiver ruim, já vem prejudicada.

Baldini: Se ativou o som original. Mas isso é uma limitação certamente, mas eu repito, os benefícios são muito maiores que as limitações.

Hesley: A gente viu, na pandemia realmente era a solução.

Thiago Rosa: Mas a gente está tratando de contexto de pandemia, mas você vê que muita gente começou a dar aula muito antes disso, porque entendeu que tem cidade que... Se a única opção da pessoa é essa, é o que ela vai agarrar.

Baldini: Exatamente. E repito, são muitos benefícios.

Thiago Rosa: Gostei, gostei muito da resposta. A gente, antes de vir aqui, abriu pro pessoal mandar algumas dúvidas e muitas dúvidas giraram em torno do lance da profissionalização do violinista, de carreira e etc. De como fazer para ser um músico profissional, então eu queria puxar um pouquinho pra esse lado para dar um corte bonito aqui para o nosso canal, e perguntar para você: O que você acha que seria necessário para alguém que está começando? Qual caminho ele deveria trilhar? Em que ele deveria focar para ser um profissional, para se tornar um violinista profissional ou de repente entrar numa orquestra, alguma coisa assim. Qual você acha que são as dificuldades? O que ele precisa fazer?

Baldini: Bom, várias coisas também, como no caso de algumas perguntas, são muito amplo, então não são por ordem de importância mas...

Thiago Rosa: Vamos por ordem alfabética. - risos

Baldini: Aí ia complicar ainda mais. Certamente ter uma boa guia. Ainda eu tenho uma enorme dificuldade em acreditar que um autodidata completo... A menos que não tenha um talentaço absurdo, possa chegar a grandes resultados. Eu acho que um bom professor, uma boa guia é fundamental. E muito embora eu acho que a porcentagem de... Como posso dizer? De criatividade, de proatividade do aluno, autonomia do aluno, seja importantíssima. Aliás, eu acho que um bom professor... Eu repito isso muitas vezes, um bom professor é aquele que ajuda o aluno a se tornar mais cedo possível, independente do professor, que seja autossuficiente. Que se torne cada dia um pouco mais professor de si mesmo. Então, embora eu acredito muito que o aluno precisa desenvolver essa independência, essa autonomia, a guia do professor serve muito, inclusive, para desenvolver isso. Então essa é uma coisa certamente. Segundo, não se deixar seduzir pelos grandes sonhos. Os grandes sonhos certamente são o ponto de partida, podem te dar o start, podem criar aquela...

Thiago Rosa: Acender a chama, né?

Baldini: São os sonhos que acendem a chama, com certeza. Mas depois para chegar lá, você tem que ser consciente que você tem que trilhar um caminho que é feito de pequenos passos, de uma etapa atrás da outra, de bastante derrota e não só de vitórias. Como dizia Rudyard Kipling, num poema lindo que é uma das minhas paixões, o poema se intitula "Se". "If", no original em inglês. "If" traduzido em português "Se". Procurem! Está na internet já traduzido para o português. É lindo. Em um certo ponto ele diz: "Se você saber tratar vitória e derrota da mesma maneira pois ambos são impostores, você será um homem, meu filho." É uma letra imaginária aos filhos e é verdade. Você muitas vezes pode se... Uma vitória pode fazer com que você comece a se achar e uma derrota pode fazer você realmente ficar frustrado por dias e não conseguir se levantar. E você tem que aprender desde cedo que esse caminho, o rumo ao ápice, ao topo da montanha é feito de quedas e você tem que levantar e voltar a caminhar. Então os grandes sonhos servem no início e depois você tem que ter pequenos sonhos, pequenas etapas. Porque pequenas etapas são difíceis de se conquistar, de chegar lá mas mais possíveis. Enquanto se você continua com aquele grande sonho, pode virar uma frustração contínua, porque você não vê nunca o topo.

Thiago Rosa: Está sempre tudo muito distante.

Baldini: Tudo muito distante. Então você tem que procurar objetivos um pouco mais próximos para ter derrota sim, porque essas acontecem mas ter vitória também. Então, essa é uma coisa muito importante. E depois também tem uma coisa, digamos, extra musical que acho que é importante. Mas que... Duas questões extra musicais. Uma que é extra musical mas que é artística. Ou seja, não pensar... Se você é violinista, não pensar que tudo termina, começa e termina com o violino. Que tudo se resume em horas e horas e horas de estudo do violino. Você tem que abrir a mente, você tem que nutrir a mente. Ter interesses amplos que vão influenciar a tua maneira de tocar o violino. Em todas as épocas as artes sempre dialogaram entre si. Sempre, é impossível pensar na música de Strauss sem Hofmannsthal. Literatura, música, pintura... Tudo dialogava constantemente. Hoje vivemos numa época muito especializada, com especializações que foi bom para algum lado, mas a tendência nos jovens de hoje, é uma tendência, não estou dizendo que são todos assim. A tendência é ficar horas e horas e horas trancados em casa com violino e depois você pergunta quem era, sei lá, que músicas eles conhecem de Beethoven, além do concerto para violino, as sonatas para violino. Não sabem que a Beethoven escreveu quartetos, não sabem que Beethoven... Não conhecem nada e parece até que a música para quarteto de Beethoven é música inferior, que o violino não é protagonista absoluto. É ao contrário, os últimos quartetos de Beethoven são superiores, talvez, que qualquer outra produção dele. Inclusive, superiores à muitas das sonatas para violino. Desculpem violinistas.

Thiago Rosa: Polêmicas.

Baldini: Essa é uma coisa e a última, não é a última, mas a última que veio na mente agora é saber que vivemos num mundo cada vez mais cheio de concorrência. Que vivemos num mundo cada vez mais no qual você tem que saber se apresentar, você tem que saber vender o que você sabe fazer, que você tem que saber se mostrar, se propor. É impossível, hoje em dia, estudar 10 horas de violino por dia e ficar sentado esperando que cheguem os convites. Você tem que saber que é importante e como dialogar com o regente de uma orquestra jovem para propor no teu concerto, para pedir uma audição. Eu lembro que eu fazia isso na minha adolescência. Talvez um pouco de maneira desorganizada, mas eu comecei...

Thiago Rosa: Mais instintivamente, né?

Baldini: Instintivamente. Eu escrevia para Claudio Abbado, Riccardo Muti... escrevia pedindo audições. E dois daqueles que me responderam, foram Isaac Stern e Claudio Abbado. Com um, o Isaac Stern, não consegui fazer a audição porque ele pediu para eu ir na Carnegie Hall, em Nova York para tocar para ele...

Thiago Rosa: Tava meio longe, né?

Baldini: A minha família não tinha dinheiro para pagar, então não consegui ir fazer uma audição com Isaac Stern. Abbado aceitou, me chamou em Bolzano norte da Itália, para me escutar. Eu fui com meu pai, toquei o concerto de Brahms. Primeiro movimento inteiro para ele e ele foi determinante, porque graças a ele que eu recebi meu primeiro trabalho como spalla na orquestra do Comunale Di Bologna, da qual Daniele Gatti, outro grande regente, que foi aluno do Abbado, era diretor musical. Então Abbado escreveu uma carta para o Daniele Gatti me apresentando "eu sei que vocês estão precisando de um spalla, acabei de escutar um jovem..." E foi assim, graças ao Abbado que...

Thiago Rosa: A maioria dos violinistas veem isso que você está falando e é bem verdade, acha que ser bom músico resolve todos os problemas.

Baldini: "Conditio sine qua non", você tem que ser bom, sem isso.... É o mínimo. Depois você tem que saber que tem muitos bons em volta e que você precisa mostrar aos outros que você é bom. Em casa ninguém percebe que você é bom.

Thiago Rosa: Músico de quarto não resolve o problema. E aí vale o network e é por isso que a gente quer fazer essa entrevista para você ficar mais conhecido e ter mais oportunidade. [Risadas]

Baldini: Pode me adicionar no meu Instagram, assim aumento...

Thiago Rosa: Faz o merchan, faz o merchan... Pra gente finalizar falando um pouco dessa... fazendo um pouco de liga nesse assunto, eu acho interessante que uma das dificuldades que eu vejo e a gente lá na loja percebe muito, para os iniciantes... para quem quer seguir na carreira musical, é a questão da condição dos instrumentos, de ter bons instrumentos e ter acesso a isso. Até quando que você acha que isso é determinante no sucesso ou fracasso de alguém? Você já deve ter visto de tudo, então por isso que eu estou...

Baldini: - Sim...

Hesley: Eu só ia complementar. Uma das coisas que a gente também percebe, algumas pessoas é claro, alguns violinistas que acham que essa é realmente... O que precisa é ter um bom instrumento, ter um bom arco... As vezes não é o estudo, não é realmente esse amplo conhecimento...

Thiago Rosa: "Eu não vou fazer aula não, mas vou comprar um baita violino..."

Hesley: - Isso eu digo, claro, algumas pessoas...

Thiago Rosa: Mas até que ponto você acha que é determinante isso?

Baldini: Eu acho que um trabalho sério do violinista, do jovem violinista, automaticamente faz com que um violino que não é muito bom, por exemplo, comece a ficar limitado para as possibilidades dele, possibilidades técnicas, expressivas... Então ele começa a sentir que as coisas que ele aprendeu, que o violino já está no limite, não consegue dar mais do que aquilo que está dando e que ele precisa de um upgrade.

Thiago Rosa: Então foi isso que deu errado para mim.

Baldini: Normalmente, assim, não é que um violino melhor faz o violinista melhor. É um violinista melhor que vai sentir a necessidade de ter um violino melhor, essa é a minha idéia. Aliás, eu acho que até contraproducente um estudante não muito avançado, de um nível não muito avançado, ter um super violino. Porque pode dar a ilusão de que ele é melhor do que ele é na verdade. Acho que é muito bom ter um violino compatível ao nível... É a pouco a pouco, assim como você melhora você vai melhorando tuas ferramentas de trabalho.

Thiago Rosa: É tipo o Vinicius que tocou em um Stradivarius, um violino... foi um desperdício. risos

Baldini: Não mas, agora brincadeiras à parte, eu lembro a primeira vez que eu toquei um Stradivarius, era bem jovem, eu era bem jovem. Eu toquei em um Stradivarius a primeira vez, porque o dono morava lá em Veneza e é uma pessoa riquíssima, que é colecionador de instrumentos antigos. E um dia ele soube que tinha um recital em Veneza e me fez a proposta de levar essa violino na tarde do concerto, porque não deixa esse violino obviamente para você levar em casa, e ele ia levar algumas horas antes do concerto. Eu teria duas, três horas para experimentar o violino e tocar no concerto, depois ele levava embora. E eu aceitei porque nunca tinha tocado no Stradivarius antes, imagina, "ah não, eu preciso de um pouco mais de tempo", não, aceitei. Só que não foi tão fácil assim, como se você... Você não, porque eu sei que você tem uma Ferrari, mas você que não tem uma Ferrari, é como se te dessem uma Ferrari agora e te falassem "você tem 10 minutos”. Você não sabe nem como ligar o motor da Ferrari, não sabe nem por onde começar. E eu tive essa sensação, a sensação era a sensação de estar tocando numa Ferrari, de estar dirigindo uma Ferrari, mas a sensação era também, depois de duas horas tocando nesse violino, a sensação era também que eu não sabia usar esse violino, que eu não utilizava todos os recursos, dele que precisaria de muito mais tempo de intimidade, de conhecimento recíproco, sabe?

Thiago Rosa: Eu tô pensando aqui que depois de duas horas você deve ter ficado numa baita dúvida, o que que você fazia. Porque você perdeu duas horas com seu instrumento...

Baldini: E já me desacostumei...

Thiago Rosa: Ah, estranha os dois, eu faço o que no concerto?

Baldini: Eu toquei com o Stradivarius e certamente tiveram momentos, sobretudo ponto de vista sonoro, momentos muito bons. Mas a sensação não foi uma sensação de um concerto muito bom. Valeu a experiência, claro, valeu a experiência mas...

Thiago Rosa: Fica aquele negócio desconfortável, né?

Baldini: É bem desconfortável, porque às vezes é melhor tocar um instrumento que você conhece, talvez menos importante, prestigioso, mas você conhece, você...

Hesley: Ter tocado ele antes, né?

Baldini: Horas, dias, semanas. Mas é, resumindo, acho que a ferramenta de trabalho, no nosso caso, violino e arco deveriam ir... Subir paralelamente ao nível do músico...

Thiago Rosa: Uma baita dica, porque tem muita gente que já quer chegar comprando um violino, né... "Eu quero comprar o violino mais caro que você tem na loja aí para estudar meu Brilha, brilha estrelinha", e de repente pode ser um, né... Achei boa a sua visão. Nesse ponto, você acha que a lutheria brasileira está fornecendo um bom serviço aí para os músicos?

Baldini: Eu gosto muito e desde que, de novo, assim como eu...

Thiago Rosa: É um assunto muito grande... To brincando.

Baldini: É um assunto enorme, mas eu acho que tem excelentes luthiers, sobretudo entre os jovens, têm realmente luthiers muito bons aqui no Brasil. E sobretudo a coisa mais importante, que tem noção do mercado brasileiro e que tem noção de que eles não podem cobrar os valores que são praticados lá fora. E isso é uma coisa excelente para um jovem que precisa comprar um violino, só que infelizmente, apesar de termos vários luthiers jovens de excelente nível aqui no Brasil que estão preocupados com o poder aquisitivo que temos aqui, infelizmente ainda tem uma porção de jovens que preferem um péssimo instrumento antigo só porque é "antigo" à um instrumento de lutheria nacional moderno...

Thiago Rosa: O glamour briga um pouco com... Falar que o violino tem mais de 100 anos é mais legal.

Baldini: E às vezes são verdadeiras porcarias. Ok é antigo, mas não é tudo que é antigo é bom. E tem alguns novos instrumentos que soam muito melhor que muitos antigos. Então essa, claro, violino antigo sempre tem essa coisa que você fala "glamour", tem também um pouco de... Tem um certo fascínio também ter um instrumento que passou por, sei lá, quantas mãos.

Thiago Rosa: O histórico do instrumento.

Baldini: É claro que tem tudo isso mas, eu repito, para ter um bom instrumento, aliás repito não porque não falei ainda, mas para ter um bom instrumento antigo tem que investir muito dinheiro. Esqueçam de comprar um bom instrumento antigo com 10 mil reais, esqueçam. Vão comprar porcaria. Você tem 10 mil reais, 15 mil reais, procurem um bom luthier brasileiro e vocês vão ter um violino muito, muito melhor como qualidade, inclusive para depois vender esse violino eventualmente para comprar algo de nível superior. Porque não esqueça, o instrumento antigo que vocês compram hoje por 10 mil reais, daqui a 5 anos vai valer 10 mil reais.

Thiago Rosa: Ah, ele não valoriza magicamente, não? Eu achei que valorizava.

Baldini: Agora muitos instrumentos modernos de luthiers, de lutheria nacional, valorizam bastante com os anos. O meu instrumento atual moderno, não vou fazer publicidade, mas o meu instrumento atual moderno, eu paguei 12 mil reais quando comprei lá atrás, 12 mil reais. E agora vale, vale mais ou menos, 10 vezes mais,10 vezes...

Hesley: Pode fazer, não tem problema de falar não.

Baldini: Ah eu tenho um Luis Amorim, entre os outros violinos que eu tenho, eu tenho um Luis Amorim que quando comprei ele ainda trabalhava aqui no Brasil, e o preço... O preço para todo mundo... O Cláudio Cruz comprou um Luis Amorim por 12 mil reais também. E hoje em dia está vendendo violinos na Europa a 24 mil euros.

Thiago Rosa: Eu fico torcendo para o meu luthier ficar famoso mas não consegui isso ainda e eu também tenho um violino... Eu fico "cara, que que você está fazendo para ficar famoso aí, pra gente ter... Para o nosso violino valorizar.”

Hesley: Mas a gente tem visto essa mudança, mas é aos poucos, do pessoal indo dos antigos porque tinha muito, realmente essa era uma coisa...

Thiago Rosa: Era uma mística, né?

Hesley: E a gente está vendo a procura... Isso de poucos anos para cá, mais de violinos novos. Até porque uma das coisas que a gente vem percebendo é a manutenção, violinos antigos dão muito...

Baldini: Dá muito trabalho.

Thiago Rosa: Violinos antigos são o Peugeot dos violinos. Nós temos um armário lá na loja, que tem violinos de luthiers, os melhores violinos ficam nessa... Uma cristaleira, então eles ficam em exposição e a gente vê que a rotatividade é maior para os violinos mais novos. A gente pega a violinos de luthiers diversos e os modernos saem com mais, com mais tranquilidade.

Baldini: Que bom, que bom...

Thiago Rosa: Um pouco de conscientização, o pessoal vai percebendo isso...

Baldini: Eu repito isso há anos, há anos que se a faixa de preço é aquela que eu falei, é muito melhor investir em um violino moderno.

Hesley: E é legal que também está valorizando a lutheria e mais, cada vez mais luthiers se formando e é isso que é bacana. A gente tem visto realmente aparecendo muitos luthiers novos aqui e bons luthiers.

Thiago Rosa: Gente muito sem nome ainda, estão começando, acabou de sair da escola de lutheria e fazendo excelentes violinos.

Baldini: E que são baratos, porque como estão se construindo um nome ainda, ainda não podem cobrar muito caro. Então é uma excelente, uma excelente aquisição para um jovem...

Thiago Rosa: Você compra na planta, né? E torce para dar certo.

Hesley: Inclusive, em Tatuí, eu estive no primeiro concerto do ano passado que você, acho que abriu, né?

Baldini: Sim.

Hesley: A temporada, né?

Baldini: A temporada da orquestra.

Hesley: E você ainda continua?

Baldini: Sim, continuo. Agora em abril temos a abertura da temporada.

Hesley: Para quem não sabe, falo a orquestra de Tatuí porque o conservatório é de ensino também de lutheria, né?

Baldini: Sim.

Thiago Rosa: Muito forte a lutheria lá em Tatuí.

Hesley: Muito bacana.

Thiago Rosa: Vamos finalizar, agora você vai poder fazer o "merchan" mesmo. Falando do livro, né? A gente tava comentando em off aqui que tem um lançamento iminente...

Baldini:  É, na verdade é quase uma notícia assim... Uma notícia que ninguém ouviu ainda, porque...

Thiago Rosa: É um furo de reportagem...

Baldini: Eu não comentei praticamente com ninguém. Acho que nem Vinícius sabe desse livro. Foi o seguinte, durante a pandemia o meu irmão que é musicólogo lá na Itália, me fez a proposta de fazermos uma série de reuniões via Zoom para falar sobre violino, técnica... Porque ele falou "Emanuelle, você tem 50 anos, agora 51, e você não acha que seria interessante deixar alguma coisa escrita?" Ok, faço os vídeos didáticos, certamente estou bem presente nas redes sociais, mas...

Thiago Rosa: Mas um livro é um livro, né?

Baldini: É, então começamos a fazer reuniões falando sobre vários assuntos de técnica violinística, de repertório de... Depois enxugamos muito, porque tinha ficado uma coisa enorme. E isso é resultou em um livro de conversas, não é um método, aliás vai muito na direção... Recentemente eu vi uma postagem sua que eu mostrei para vários alunos meus, inclusive aquela famosa postagem que você falava "não estudem escalas", importantíssimo isso, importantíssimo. E porque, muitas vezes me perguntam "Que método você usa? Qual livro você usa?"

Thiago Rosa: "Qual livro para mudança de posição? Me indica um método para arco?"

Baldini: Então, o negócio, como sempre repito, não é um método. Não digo "tanto faz o método", mas quase, quase. Porque é muito infinitamente mais importante a maneira como você trabalha, os objetivos que você tem quando você trabalha, inclusive nas escalas como você colocou naquela postagem, então eu falei "Eu não quero fazer um método", aliás eu quero quase fazer um contra método, quase fazer um livro de conversas nas quais eu deixo claro de quão importante é a criatividade, a iniciativa pessoal de cada um, a capacidade de criar cada um o seu próprio método. Enfim para resumir, abril... Final de abril...

Thiago Rosa: Se você contar muito, a gente não conta.

Baldini: Não compram igualmente, né? Vocês não vão comprar esse livro. Façam que nem ele, não estudem escalas. Então não comprem no livro, a melhor publicidade que pode fazer.

Thiago Rosa: Já que é um contra método, a gente faz uma contra venda aqui.

Baldini: Exatamente, não comprem esse livro. Vai sair esse livro, um livro bem ágil, bem simples, muito coloquial, não é nada muito técnico. Inclusive acho que é bem interessante para quem... Não necessariamente só para os violinistas e é mais uma contribuição que eu tento deixar, porque nele eu acho que tem muito do meu pensamento sobre como se estuda e sobre qual deveria ser abordagem no estudo do violino e que vai muito nessa direção, não necessariamente em A, B, C, o método, o que fazer depois do Sol Maior de Haydn, qual concerto estudar, tudo pré estabelecido, engessado... Eu tenho a visão oposta.

Thiago Rosa: E já tem nome?

Baldini: O estudo do violino, reflexões, reflexões... Algo assim.

Thiago Rosa: Estamos trabalhando no nome ainda.

Baldini: Já não lembro mais...

Thiago Rosa: Vai ter um nome em breve. Legal, muito bom. Emanuelle, quero agradecer você pela hospitalidade, pelas risadas aqui. Tenho certeza que o tempo passa assim, né? A gente tá aqui segurando ele faz dois dias e meio nessa entrevista toda aqui, então obrigado.

Baldini: Estou com um pouco de sono porque faz duas noites que não durmo...

Thiago Rosa: Nessa conversa aqui mais ou menos...

Baldini: É porque queríamos gravar de noite mas aí não tinha luz porque tava escuro, aí tivemos que esperar amanhecer...

Thiago Rosa: Amanheceu, já está de noite de novo.

Baldini: É porque tinha o ensaio da OSESP né, então estamos aqui... Não vejo a hora de ir pra casa.

Thiago Rosa: Obrigado, obrigado mesmo pelo seu tempo.

Baldini: Obrigado, obrigado.

Thiago Rosa: Então a gente vai aproveitar para te avisar que quando o livro estiver disponível, esse livro que a gente não sabe o nome ainda, a gente vai deixar o link fixado aqui para vocês adquirirem, porque com certeza vai trazer muito conhecimento, vai ser de grande ajuda.